terça-feira, 21 de abril de 2015

SISTEMA DE ÔNIBUS "CURITIBANIZADO" PECA PELA BUROCRACIA


Diz o ditado que, se é mais fácil complicar, para que facilitar? Infelizmente o sistema de ônibus funciona da seguinte forma, com autoridades e tecnocratas buscando soluções sem acabar com o problema.

O modelo caduco da "curitibanização" - que funciona com pintura padronizada, grupos empresariais politicamente montados (consórcios), entre outras coisas - peca sobretudo pela burocracia e pelo poder concentrado das secretarias de transporte que, em vez de apenas fiscalizar, manda com mãos de ferro nas empresas de ônibus, o que não resolve o problema.

Afinal, transformar secretários de transportes em "xerifes" mostrou que não acaba o problema, mantém e até agrava as irregularidades existentes nos sistemas de ônibus, e os tais "consórcios" se tornam mais difíceis de administrar do que no antigo sistema de empresas particulares autônomas e com direito de apresentar identidade visual para cada uma delas.

O sistema torna-se burocrático e um problema como o de uma empresa transferir carros de uma pintura para servir linhas de outra pintura não existiria se esta empresa adotasse uma identidade visual para toda a frota, causando menos custos e menos burocracia para transferir carros semi-novos para outras linhas.

Um exemplo. A Viação Pendotiba, de Niterói, quando tinha o direito de apresentar identidade visual em toda a sua frota, ao transferir os carros das linhas intermunicipais para as municipais, ela apenas repintava a parte que estava o número do carro para substituir pelo novo número, correspondente à frota municipal.

Um carro da Marcopolo Torino 2007, anos atrás, de número RJ 211.015, apenas foi parcialmente repintado para NIT.02-284, sem representar muito custo. A repintura é facultativa e a empresa poderia repintar os carros sem um prazo determinado.

Agora, porém, a repintura é obrigatória, compulsória e imediata. Danem-se os custos da plotagem ou da tinta. Tudo é rápido e pesa nos custos do sistema de ônibus. E mais burocracia, porque não se trata só de agilizar os documentos, porque tem o registro do consórcio, que complica mais as coisas.

Em certos casos, há até o drible da burocracia, o que faz com que os carros tenham registro vencido ou outras irregularidades nos documentos. A corrupção é, contraditoriamente, facilitada nesse esquema. E isso complica muito mais, porque a burocracia se torna rigorosa demais, mas, em contrapartida, também há interesses políticos que facilitam ainda mais a corrupção.

Por que essa contradição acontece? Porque o próprio sistema não permite a transparência. Esse modelo de sistema de ônibus, lançado por Jaime Lerner em 1974, ele reflete a sua origem no âmbito da ditadura militar: autoridade demais, transparência de menos.

Por isso existe a contraditória realidade de muita burocracia e muita corrupção. E os passageiros acabam levando gato por lebre, achando que qualquer malefício vale em troca de ônibus com ar condicionado, chassis de fábricas suecas ou BRTs. E esses "presentinhos" não estão adiantando para melhorar o sistema de ônibus nas cidades. Pelo contrário, tornam o sistema pior e ainda mais caro.

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