domingo, 17 de janeiro de 2016

FARRA DOS LOGOTIPOS DE GOVERNOS NÃO TRAZ RESPOSTA PARA PROBLEMAS NOS ÔNIBUS DO PAÍS

PEQUENOS LOGOTIPOS DE EMPRESAS SÃO INSUFICIENTES PARA RESOLVER A CONFUSÃO DAS PINTURAS PADRONIZADAS E DOS LOGOTIPOS DE GOVERNOS.

A farra dos logotipos políticos, de prefeituras, governos estaduais, secretarias, paraestatais, sistemas de mobilidade urbana, consórcios etc, simbolizada nas pinturas padronizadas nos ônibus em diversas cidades e regiões do país, é um fator que poucos reconhecem como influente na decadência dos sistemas de ônibus em várias partes do país.

A medida da pintura padronizada, iniciada por cidades como Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte e "popularizada" pelo Rio de Janeiro - as aspas indicam que essa popularização nunca passou de conversa mole de políticos influentes, mas corruptos - , está decaindo em todo o país, mas alguns governantes tentam relançar a medida mudando regras de "licitação" e criando novas estampas.

As autoridades não querem "largar o osso" e tentam manter seus logotipos apegados às frotas de ônibus, ignorando que colocar diferentes empresas de ônibus sob a camisa-de-força de uma "pintura única" é uma medida própria da ditadura militar que, nos tempos atuais, não mais faz sentido para os dias de hoje.

Isso reflete a mentalidade retrógrada que temos na política, nas secretarias de Transportes em todo o país. Enquanto a sociedade pede para que empresas de ônibus sejam reconhecidas pela identidade visual, independente do serviço, da área ou zona ou do tipo de ônibus que usam, garantindo transparência e permitindo ao passageiro identificar até a empresa que presta mal um serviço, os governantes insistem em impor suas imagens para as frotas de ônibus.

As relações confusas que a pintura padronizada traz nos sistemas de ônibus, em que a intervenção estatal é dissimulada pelo "respeito" às empresas particulares beneficiadas pela concessão de serviço, o que permite aos políticos usarem de todo tipo de desculpa para empurrar a medida para a população, só transformam os sistemas de ônibus no caos em que se encontram.

Os problemas que antes haviam nos sistemas de ônibus não conseguiram ser resolvidos, e se agravaram nos últimos anos. Segundo pesquisas em reportagens sobre acidentes e outros acontecimentos graves envolvendo ônibus, observa-se a decadência maior em cidades que adotam pintura padronizada nos ônibus.

PINTURA PADRONIZADA INFLUI, MESMO INDIRETAMENTE, ATÉ EM FRAUDE ELEITORAL

As empresas, não podendo exibir suas identidades visuais, decaem o serviço. Afinal, a imagem é imposta pela respectiva prefeitura ou órgão estatal, o que faz os ônibus circularem não com as imagens das respectivas empresas, mas com as imagens dos governos, municipais ou estaduais.

Isso cria uma crise de representatividade e de responsabilidade, o que faz com que a corrupção no sistema de transporte se agrave e as irregularidades se tornem cada vez mais graves. Se o sistema de ônibus é ruim com a diversidade visual, em que cada empresa tem seu visual próprio, ele fica pior com a pintura padronizada.

Em muitos casos, o sistema de ônibus se "partidariza" e, se as empresas de ônibus não mostram suas identidades visuais, por outro lado, pela associação que têm com consórcios e outros critérios impostos pelos governantes, seus empresários acabam manipulando o jogo eleitoral, criando um "voto de cabresto" eletrônico sob o pretexto da "mobilidade urbana".

DEFEITO GRAVE VISTO COMO "QUALIDADE POSITIVA"

Outro aspecto que chama a atenção é que as autoridades investem numa medida que causa muita revolta nos passageiros, mas que é tida como "positiva" por tecnocratas e governantes, a partir do próprio Jaime Lerner, arquiteto curitibano que havia sido político na ditadura militar.

A redução de frotas de ônibus em circulação nas ruas é vista por tecnocratas como forma de "racionalizar" o sistema, acreditando que bastam haver corredores exclusivos para resolver o problema, ignorando que há o problema do excesso de automóveis nas ruas das cidades.

Por outro lado, a redução de percursos de linhas para forçar o uso de bilhetes eletrônicos - que têm o nome pomposo de Bilhete Único - também se torna uma medida oposta aos propósitos da mobilidade urbana, na medida em que representam mais perda de tempo no deslocamento das pessoas de casa para o trabalho e vice-versa, devido à obrigação de ter que pegar mais um ônibus, o que também traz desconforto e outros incômodos.

Quanto à redução de frotas de ônibus nas ruas, isso é motivo de uma das tradicionais reclamações dos passageiros, que são os longos tempos de espera pela chegada do ônibus desejado, alvo de intensas e indignadas queixas de cidadãos irritados, que sabem muito bem que a medida defendida por tecnocratas não tem a positividade que estes só conseguem garantir na computação gráfica e em jogos eletrônicos (diz a lenda que os tecnocratas do transporte público jogam muito GTA e TheSims).

POLUIÇÃO VISUAL

A pintura padronizada comprovadamente mostrou que, do contrário das declarações demagógicas do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, mais favorece do que combate a poluição visual. Isso se comprova em muitos aspectos, e não apenas os aspectos de "sujos" que, em cidades como o Rio de Janeiro e Curitiba (isso mesmo) os ônibus acabam parecendo através da "pintura única".

Em muitas cidades, exibe-se o logotipo da prefeitura ou governo estadual, do consórcio, do sistema específico (tipo SIM ou SEI), da paraestatal que controla o sistema, do tipo de ônibus ou operação (como "piso baixo" e "interbairros", que, junto com a "sopa de letrinhas" do código numérico, deixam os passageiros tontos de tão confusos.

É muita poluição visual, que contraria a sobriedade garantida pela diversidade visual em que a empresa de ônibus podia exibir seu visual próprio e bastava apresentar o nome e o número do carro, garantindo maior transparência e comodidade para os passageiros, que, no caso de empresas de ônibus incompetentes, o reconhecimento era facilitado, por ser imediato e direto.

MAIS BUROCRACIA E CUSTOS

O que também chama a atenção é que a pintura padronizada nos ônibus é fator de maior burocratização e mais custos para os sistemas de ônibus. Só para uma empresa deslocar um veículo semi-novo de uma linha intermunicipal para a municipal, a situação ficou mais difícil.

Um caso ilustrativo é notado na Viação Pendotiba, de Niterói. Ela costuma transferir carros que circulam em suas linhas intermunicipais - 770D Itaipu / Candelária e 771D Rio do Ouro / Candelária - para linhas municipais, o que antes era um processo simplificado.

Um veículo da Marcopolo Torino 2007, número RJ 211.015, pôde ser facilmente deslocado para a frota municipal, virando NIT.02-284. Bastava a documentação interna da empresa, uma parcial repintura nas partes onde se apresentava o número do carro, e em poucos dias ele voltava a circular com o novo número e o novo serviço.

Hoje não acontece mais isso. Os ônibus levam mais tempo para o deslocamento. Tem a burocracia com a Prefeitura de Niterói, por causa do consórcio, a documentação leva mais tempo. A pintura terá que ser total, porque tem que adotar as cores do serviço municipal, e isso traz mais burocracia, mais custo, mais demora para a liberação dos carros.

É por isso que os recentes aumentos das passagens neste mês tiveram um "sabor especial". São os custos de um sistema marcado pela intervenção política das secretarias de Transportes e pela pintura padronizada. Revelam um padrão de sistema de ônibus caro, burocrático e "partidarizado", que agrava os defeitos já existentes antes, quando havia diversidade visual nas empresas.

Combater a pintura padronizada deveria ser uma das maiores pautas do Movimento Passe Livre, porque ela é fator direto ou indireto para a manutenção, criação ou agravamento de muitos dos problemas nos sistemas de ônibus das cidades, e serve de "carro-chefe" para outras arbitrariedades que os tecnocratas do Transporte empurram para a população.

A farra dos logotipos de governos (prefeituras ou governos estaduais) não tem condições de oferecer respostas ou satisfações para o interesse público. Afinal, o sistema de ônibus opera em regime de concessão.

Se os políticos concedem as linhas para empresas particulares mas impõem as imagens que eles decidem, então a concessão é feita pela metade, o que transforma o sistema de ônibus sob pintura padronizada num modelo confuso que só traz problemas, deixando o serviço mais caro, mais problemático e muito mais burocratizado. O passageiro sempre perde com os ônibus "padronizados".

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