terça-feira, 25 de agosto de 2015

ALTERAR MUDANÇA DE LINHAS CUSTOU CARGO A ALEXANDRE SANSÃO


A repercussão negativa de certas medidas faz com que até protegidos políticos sejam expulsos de cargos. Poucos se lembram, mas no ano passado a mudança de itinerários de linhas de Alexandre Sansão acabou influenciando na sua saída do cargo de secretário de Transportes, substituído pelo inexpressivo Rafael Picciani, de uma família de juristas e políticos.

Sansão foi o primeiro secretário de Transportes na primeira gestão do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes. Foi ele que impôs pintura padronizada e dupla função do motorista-cobrador, medidas autoritárias, contrárias à lei e ao interesse público, que influem direta e indiretamente na decadência do sistema de ônibus do Rio, que, mesmo imperfeito, era bom e servia de referência para o país.

Depois de 2010 isso mudou e o sistema de ônibus se tornou o pior do país. Pior: com o Rio de Janeiro ainda sendo referência para o país, esse modelo foi exportado para cidades como Recife e Florianópolis, que à sua maneira veem a decadência vertiginosa de seus sistemas de ônibus se agravar com a corrupção acobertada pela "lona" da pintura padronizada.

Sansão deixou o cargo pouco depois e Carlos Roberto Osório, ligado a dirigentes esportivos, sobretudo o COB de Carlos Arthur Nuzman, assumiu o posto e estendeu a abominável pintura padronizada aos ônibus rodoviários, ainda com o visual mais confuso do que os urbanos.

Depois Carlos Roberto deixou o cargo para concorrer ao Legislativo, e em seguida virou secretário de Transportes do governo estadual, já ameaçando a tenebrosa medida para ônibus intermunicipais para a cidade do Rio de Janeiro, poluindo os ônibus do Estado com pinturas que não passam de propaganda política de secretarias de Transportes, vigente em várias cidades.

Com a saída de Carlos Roberto, voltou Sansão para o cargo municipal e ele decidiu esquartejar trajetos funcionais e tradicionais de ônibus, sob a desculpa de "melhorar o trânsito" com menos ônibus nas ruas, e sob o pretexto de "evitar itinerários sobrepostos".

A imprensa já começa a noticiar esse processo de mudanças como um projeto de segregação social. A substituição de linhas diretas por trajetos mutilados e a redução de ônibus em circulação, além de provocar a superlotação de BRTs e os tumultos nas estações, dificulta às populações suburbanas o acesso às praias da Zona Sul e de parte da Zona Oeste.

A eliminação de trajetos exclusivos como 465 Cascadura / Gávea (antiga 755), 676 Méier / Penha, 910 Bananal / Madureira e 952 Penha / Praça Seca, que faziam percursos exclusivos, substituídas por "alimentadoras" que às vezes não passam de clones de linhas já existentes, causou uma péssima repercussão e foram rejeitadas pelos cariocas, apesar da medida continuar valendo.

Pelo contrário, o que se viu foi justamente a sobreposição de percursos, não bastasse a redução de trajetos e ônibus em circulação ter criado a superpopulação nas estações de BRT, que agora rodam superlotados a ponto de muita gente defini-los como "latas de sardinhas".

Vieram acidentes, congestionamentos, superlotações. E isso causou uma repercussão negativa que pesou negativamente na imagem do secretário Sansão. Sofrendo pesadíssimas críticas e abalado pela pressão dos noticiários, Sansão foi tirado do cargo e, como ele era protegido de Eduardo Paes, foi transferido para o cargo de subsecretário de Planejamento.

Agora, no atual cargo, Sansão recomeça a viver o pesadelo de 2014 quando anunciou outro esquartejamento de itinerários. Com um contexto ainda pior, já que o projeto de eliminação de linhas da Zona Norte para a Zona Sul coincide com a repressão policial a jovens pobres que iam para as praias por ônibus e também com a fama de autoritário do deputado federal Eduardo Cunha.

Dessa forma, o projeto de Sansão é comparado a um processo "higienista" manifesto pela repressão a jovens que vinham da Zona Norte de ônibus para curtirem as praias da Zona Sul. Como integrantes do povo carioca, os jovens das periferias tendem a ser proibidos de curtirem as praias da própria cidade, com a dificultação do acesso por ônibus, com o fim das linhas diretas.

Já o caráter autoritário de Alexandre Sansão, apesar do jeito aparentemente tímido e racional do subsecretário, já está sendo comparado por muitos com a fama de arbitrário de Eduardo Cunha, o presidente da Câmara dos Deputados que é do mesmo PMDB carioca ao qual estão ligados Eduardo Paes, Luiz Fernando Pezão e, de certa forma, Carlos Roberto Osório e Alexandre Sansão.

Um comentário:

  1. Nossa se fosse assim, todos os secretários de todas as cidades que implementaram o BRT, teriam q ser "expulsos"....
    Em todas as cidades do mundo onde foi implementado o BRT, as linhas convencionais foram encurtadas ou extintas... é inviavel rodar os dois sistemas juntos.. so iria trazer maior custo para as empesas sem aumento da receita..

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