domingo, 24 de janeiro de 2016

EXPERIÊNCIA MOSTRA QUE JAIME LERNER ESTÁ ERRADO


Tirar ônibus de circulação nas ruas é solução? Por incrível que pareça, o maior problema enfrentado por passageiros de ônibus nas grandes cidades, o de esperar muito tempo pela chegada de um ônibus, é considerado uma "virtude" pelos tecnocratas do transporte, que falam sempre que a redução de frotas de ônibus em circulação contribui para a melhor fludez do trânsito.

A realidade mostra que essa tese, difundida em palestras sobre transporte, urbanismo e mobilidade urbana no Brasil e no mundo e que garante uma reputação quase divina de tecnocratas como o arquiteto Jaime Lerner - que poucos esquecem ter sido um político da ditadura militar e um equivalente, no assunto Transporte e Urbanismo, ao que Roberto Campos foi na Economia - , está completamente errada.

O jornal Folha de São Paulo, com todos os senões ideológicos que expressa, a ponto de contratar um ativista medíocre como Kim Kataguiri (que no primeiro artigo chamou os manifestantes do Movimento Passe Livre de "baderneiros"), realizou uma experiência muito interessante, fechando um trecho da Av. Pacaembu, na cidade de São Paulo, para testar a mobilidade urbana.

48 figurantes foram chamados para um teste. Eles se posicionaram sobre cadeiras, simulando estarem posicionadas nos carros que transitam pela avenida, depois foram agrupadas num espaço correspondente ao de assentos nos ônibus ou metrô e, depois, simulando estarem em bicicletas.

Quanto à comparação entre ônibus e automóvel, constatou-se que os automóveis, que transportam uma média de 1,2 pessoa por veículo, ocupam 17 vezes o espaço que deveria ser para um único ônibus, atingindo uma dimensão de 840 m².

No que se refere à analise do sistema de ônibus, o teste derruba a tese tão celebrada nos meios tecnocráticos e divulgada pela mídia especializada em Transportes de que, com menos ônibus nas ruas, haverá maior fluência no trânsito.

Com um excedente de comerciais de automóveis na televisão e uma tradição ideológica do carro como símbolo de status e emancipação social, mesmo as reais vantagens desse transporte são deturpadas pelo luxo que a televisão mostra e que faz pessoas tirarem seus carros das garagens até de maneira supérflua, como para ir a um mercado da esquina.

Com essa verdadeira sobreposição de comerciais de automóveis - num único intervalo de programa, um módulo de cinco minutos mostra até quatro comerciais envolvendo marcas de automóveis, baterias para carros e combustíveis - , um grande contingente de automóveis que circulam sem necessidade faz com que haja os conhecidos engarrafamentos nas cidades.

Esse quadro não é imaginado por maquetes, computações gráficas nem pela realidade virtual. Daí que os tecnocratas que julgam maravilhoso ver menos ônibus nas ruas, mesmo com sua altíssima demanda de passageiros, estão completamente errados.

Suas concepções técnicas se chocam com a realidade dos passageiros, o que cria um verdadeiro conflito entre a visão técnica e a vivência social. A vida dura do povo nas ruas simplesmente atropelou toda a fantasia trazida pelas utopias técnicas dos engenheiros da mobilidade urbana. Jaime Lerner, portanto, está errado.

domingo, 17 de janeiro de 2016

FARRA DOS LOGOTIPOS DE GOVERNOS NÃO TRAZ RESPOSTA PARA PROBLEMAS NOS ÔNIBUS DO PAÍS

PEQUENOS LOGOTIPOS DE EMPRESAS SÃO INSUFICIENTES PARA RESOLVER A CONFUSÃO DAS PINTURAS PADRONIZADAS E DOS LOGOTIPOS DE GOVERNOS.

A farra dos logotipos políticos, de prefeituras, governos estaduais, secretarias, paraestatais, sistemas de mobilidade urbana, consórcios etc, simbolizada nas pinturas padronizadas nos ônibus em diversas cidades e regiões do país, é um fator que poucos reconhecem como influente na decadência dos sistemas de ônibus em várias partes do país.

A medida da pintura padronizada, iniciada por cidades como Curitiba, São Paulo e Belo Horizonte e "popularizada" pelo Rio de Janeiro - as aspas indicam que essa popularização nunca passou de conversa mole de políticos influentes, mas corruptos - , está decaindo em todo o país, mas alguns governantes tentam relançar a medida mudando regras de "licitação" e criando novas estampas.

As autoridades não querem "largar o osso" e tentam manter seus logotipos apegados às frotas de ônibus, ignorando que colocar diferentes empresas de ônibus sob a camisa-de-força de uma "pintura única" é uma medida própria da ditadura militar que, nos tempos atuais, não mais faz sentido para os dias de hoje.

Isso reflete a mentalidade retrógrada que temos na política, nas secretarias de Transportes em todo o país. Enquanto a sociedade pede para que empresas de ônibus sejam reconhecidas pela identidade visual, independente do serviço, da área ou zona ou do tipo de ônibus que usam, garantindo transparência e permitindo ao passageiro identificar até a empresa que presta mal um serviço, os governantes insistem em impor suas imagens para as frotas de ônibus.

As relações confusas que a pintura padronizada traz nos sistemas de ônibus, em que a intervenção estatal é dissimulada pelo "respeito" às empresas particulares beneficiadas pela concessão de serviço, o que permite aos políticos usarem de todo tipo de desculpa para empurrar a medida para a população, só transformam os sistemas de ônibus no caos em que se encontram.

Os problemas que antes haviam nos sistemas de ônibus não conseguiram ser resolvidos, e se agravaram nos últimos anos. Segundo pesquisas em reportagens sobre acidentes e outros acontecimentos graves envolvendo ônibus, observa-se a decadência maior em cidades que adotam pintura padronizada nos ônibus.

PINTURA PADRONIZADA INFLUI, MESMO INDIRETAMENTE, ATÉ EM FRAUDE ELEITORAL

As empresas, não podendo exibir suas identidades visuais, decaem o serviço. Afinal, a imagem é imposta pela respectiva prefeitura ou órgão estatal, o que faz os ônibus circularem não com as imagens das respectivas empresas, mas com as imagens dos governos, municipais ou estaduais.

Isso cria uma crise de representatividade e de responsabilidade, o que faz com que a corrupção no sistema de transporte se agrave e as irregularidades se tornem cada vez mais graves. Se o sistema de ônibus é ruim com a diversidade visual, em que cada empresa tem seu visual próprio, ele fica pior com a pintura padronizada.

Em muitos casos, o sistema de ônibus se "partidariza" e, se as empresas de ônibus não mostram suas identidades visuais, por outro lado, pela associação que têm com consórcios e outros critérios impostos pelos governantes, seus empresários acabam manipulando o jogo eleitoral, criando um "voto de cabresto" eletrônico sob o pretexto da "mobilidade urbana".

DEFEITO GRAVE VISTO COMO "QUALIDADE POSITIVA"

Outro aspecto que chama a atenção é que as autoridades investem numa medida que causa muita revolta nos passageiros, mas que é tida como "positiva" por tecnocratas e governantes, a partir do próprio Jaime Lerner, arquiteto curitibano que havia sido político na ditadura militar.

A redução de frotas de ônibus em circulação nas ruas é vista por tecnocratas como forma de "racionalizar" o sistema, acreditando que bastam haver corredores exclusivos para resolver o problema, ignorando que há o problema do excesso de automóveis nas ruas das cidades.

Por outro lado, a redução de percursos de linhas para forçar o uso de bilhetes eletrônicos - que têm o nome pomposo de Bilhete Único - também se torna uma medida oposta aos propósitos da mobilidade urbana, na medida em que representam mais perda de tempo no deslocamento das pessoas de casa para o trabalho e vice-versa, devido à obrigação de ter que pegar mais um ônibus, o que também traz desconforto e outros incômodos.

Quanto à redução de frotas de ônibus nas ruas, isso é motivo de uma das tradicionais reclamações dos passageiros, que são os longos tempos de espera pela chegada do ônibus desejado, alvo de intensas e indignadas queixas de cidadãos irritados, que sabem muito bem que a medida defendida por tecnocratas não tem a positividade que estes só conseguem garantir na computação gráfica e em jogos eletrônicos (diz a lenda que os tecnocratas do transporte público jogam muito GTA e TheSims).

POLUIÇÃO VISUAL

A pintura padronizada comprovadamente mostrou que, do contrário das declarações demagógicas do prefeito do Rio de Janeiro, Eduardo Paes, mais favorece do que combate a poluição visual. Isso se comprova em muitos aspectos, e não apenas os aspectos de "sujos" que, em cidades como o Rio de Janeiro e Curitiba (isso mesmo) os ônibus acabam parecendo através da "pintura única".

Em muitas cidades, exibe-se o logotipo da prefeitura ou governo estadual, do consórcio, do sistema específico (tipo SIM ou SEI), da paraestatal que controla o sistema, do tipo de ônibus ou operação (como "piso baixo" e "interbairros", que, junto com a "sopa de letrinhas" do código numérico, deixam os passageiros tontos de tão confusos.

É muita poluição visual, que contraria a sobriedade garantida pela diversidade visual em que a empresa de ônibus podia exibir seu visual próprio e bastava apresentar o nome e o número do carro, garantindo maior transparência e comodidade para os passageiros, que, no caso de empresas de ônibus incompetentes, o reconhecimento era facilitado, por ser imediato e direto.

MAIS BUROCRACIA E CUSTOS

O que também chama a atenção é que a pintura padronizada nos ônibus é fator de maior burocratização e mais custos para os sistemas de ônibus. Só para uma empresa deslocar um veículo semi-novo de uma linha intermunicipal para a municipal, a situação ficou mais difícil.

Um caso ilustrativo é notado na Viação Pendotiba, de Niterói. Ela costuma transferir carros que circulam em suas linhas intermunicipais - 770D Itaipu / Candelária e 771D Rio do Ouro / Candelária - para linhas municipais, o que antes era um processo simplificado.

Um veículo da Marcopolo Torino 2007, número RJ 211.015, pôde ser facilmente deslocado para a frota municipal, virando NIT.02-284. Bastava a documentação interna da empresa, uma parcial repintura nas partes onde se apresentava o número do carro, e em poucos dias ele voltava a circular com o novo número e o novo serviço.

Hoje não acontece mais isso. Os ônibus levam mais tempo para o deslocamento. Tem a burocracia com a Prefeitura de Niterói, por causa do consórcio, a documentação leva mais tempo. A pintura terá que ser total, porque tem que adotar as cores do serviço municipal, e isso traz mais burocracia, mais custo, mais demora para a liberação dos carros.

É por isso que os recentes aumentos das passagens neste mês tiveram um "sabor especial". São os custos de um sistema marcado pela intervenção política das secretarias de Transportes e pela pintura padronizada. Revelam um padrão de sistema de ônibus caro, burocrático e "partidarizado", que agrava os defeitos já existentes antes, quando havia diversidade visual nas empresas.

Combater a pintura padronizada deveria ser uma das maiores pautas do Movimento Passe Livre, porque ela é fator direto ou indireto para a manutenção, criação ou agravamento de muitos dos problemas nos sistemas de ônibus das cidades, e serve de "carro-chefe" para outras arbitrariedades que os tecnocratas do Transporte empurram para a população.

A farra dos logotipos de governos (prefeituras ou governos estaduais) não tem condições de oferecer respostas ou satisfações para o interesse público. Afinal, o sistema de ônibus opera em regime de concessão.

Se os políticos concedem as linhas para empresas particulares mas impõem as imagens que eles decidem, então a concessão é feita pela metade, o que transforma o sistema de ônibus sob pintura padronizada num modelo confuso que só traz problemas, deixando o serviço mais caro, mais problemático e muito mais burocratizado. O passageiro sempre perde com os ônibus "padronizados".

sábado, 2 de janeiro de 2016

EM CRISE, SISTEMA DE ÔNIBUS DO RJ TEM TARIFA MAIS CARA


Vivendo sua mais aguda crise, o sistema de ônibus do Rio de Janeiro, com suas frotas sucateadas em praticamente todas as empresas e com um quadro de rodoviários demitidos preocupante, devido à dupla função do motorista-cobrador (que tirou o funcionário dos torniquetes), teve mais um aumento nas linhas municipais, passando de R$ 3,40 para R$ 3,80.

O aumento passou a valer também para linhas intermunicipais, em várias tarifas. A mais barata, de R$ 3,15, passou para R$ 3,50. O Bilhete Único que faz integração com as linhas cariocas municipais acompanhou o índice de aumento para as mesmas.

Com cinco anos de implantação, o sistema que é baseado em medidas antipopulares como pintura padronizada nas empresas de ônibus e dupla função de motorista-cobrador, sofre sua decadência pelas próprias caraterísticas. O modelo implantado em 2010 segue valores e paradigmas que só tinham valor durante a ditadura militar e num contexto social com menos automóveis e uma população brasileira menor que a atual.

A arbitrariedade com que foi imposto o modelo de sistema de ônibus revela também o caráter demagógico de Eduardo Paes e reflete o autoritarismo do PMDB carioca, que não se expressa somente pela ação do presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, mas em todo o grupo político do prefeito carioca e do governador fluminense, Luiz Fernando Pezão.

Com isso, os passageiros de ônibus percebem a decadência do serviço e a queda de qualidade que empresas de ônibus que agora são proibidas de exibir sua identidade visual passaram a ter, até pela crise de representatividade, por ser um modelo confuso em que ninguém sabe ao certo se é o Estado que interviu nas empresas de ônibus ou se elas continuam operando de maneira "autônoma".

"APAGADAS", EMPRESAS DEIXAM DE RENOVAR FROTAS COM AGILIDADE

Um exemplo dessa decadência está em empresas como a Viação Acari, que, existente desde os anos 60, deixou de renovar sua frota com a agilidade que tinha quando podia mostrar sua identidade visual.

A Acari, atuante em linhas das regiões de Méier, Madureira, Centro e Copacabana, foi uma das primeiras a agilizar a renovação de frota, já no começo da década de 1980, quando vendia carros com cinco anos de fabricação. No final dos anos 1980, reduziu a vida útil para três.

Atualmente, porém, a Acari está prolongando demais a vida útil das frotas, até pelo fato de que é o Estado quem decide quando a empresa irá renovar a frota (o que faz prolongar a vida útil até quando os passageiros começarem a reclamar). Carros com ano de fabricação de 2009 ainda continuam circulando, mesmo em linhas para o Centro e para a Zona Sul.

Outras empresas históricas, como Transportes América, Auto Viação Alpha e Viação Madureira Candelária, já apresentam frota sucateada. Mesmo a antes exemplar Rodoviária Âncora Matias já mostra goteiras no ar condicionado de ônibus novos, o que indica falta de manutenção.